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domingo, 21 de setembro de 2014

A Lagartixa e o Homem

Sabe aqueles dias em que você quer sentir-se sem carga? Sentir-se naturalmente livre e sem aquele peso insuportável do stress? Parei por um instante, no furacão da minha incessante procura pela paz interior e deparei com uma figura caricata. Andar ligeiro, parada brusca, análise de terreno. O ciclo se repete. Media um pouco mais que seis centímetros, branca feito gesso e de sangue, provavelmente, gélido. Querida lagartixa, apareceu repentinamente a fim de gerar-me reflexão. Eu clamava por paz e de um segundo para outro parei para observar seu divertido passeio.
Gosto de falar sobre a correria do mundo moderno, fruto deliberado da obrigatoriedade de manter-se vivo. Sim, para viver hoje em dia precisamos do máximo de velocidade possível. Pisa fundo e vai. Tem muita empresa por aí que avalia o desempenho do funcionário pela velocidade do seu serviço, e só depois, pela qualidade. "Você tem que fazer mais rápido", "quanto mais rápido melhor", são frases soltas no mundo corporativo. Claro, não devemos generalizar, mas se você trabalhar bem e vier de brinde o a velocidade, pronto. Ponto certo de sucesso.
Deveríamos ser como ela. A lagartixa agora estava parada à minha frente, congelada. Ela para e depois vai. No que ela faz, perfeita sincronia entre velocidade e interrupção do movimento, mora a chave da eficácia. Olha o terreno e depois avança.
No cenário humano as coisas andam difíceis e avessas a esse comportamento tão sábio do pequeno réptil. Andam, andam e querem chegar num lugar prometido. Eles nem sabem que lugar é esse e muito menos quem o prometeu. Simplesmente vão, andam e seguem sob uma meta invisível. Daí surge o stress, a maldita gastrite nervosa, entre tantos outros problemas psicossomáticos. O capital nos impõem, o Estado nos alerta, e até a grandiosa sagrada instituição familiar está ali para também nos deixar bem claro: jamais devemos parar.
A lagartixa pode não viver tantos anos, mas de uma coisa eu tenho certeza. Sei que enquanto ela vive, todos seus passos são friamente calculados. Andam e param. Param e andam. Nós, não.

FIM.

Um comentário:

Décio Jr disse...

Muito legal.